“Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.”
(Gonçalves Dias)

sábado, 26 de fevereiro de 2011

jogos de armar (faça você mesmo)

No final das contas, nem é assim tão difícil, dá até pra fazer uma lista. Assim: andar descalça faz bem; tomar sorvete lambuzando os dedos faz bem; ficar parada no trânsito não faz bem; brigar com quem a gente gosta não faz nada bem; dançar como se ninguém estivesse olhando faz um bem danado; um belo copo de água gelada no meio da tarde faz muito bem; ver gente maltratando criança não faz bem; ouvir de surpresa a música que a gente mais gosta faz bem pra burro; perder a paciência e sair atirando pra todo lado não faz nada bem; boiar olhando pro céu azul e curtindo o silêncio de sob a água faz muito bem; fazer as coisas correndo e querer dar conta de mais do que é saudavelmente possível não faz bem; comer um pratão de salada acompanhada de um suco de fruta geladinho faz um bem que nem te conto; chorar pra desabafar faz bem; guardar a raiva do lado de dentro não faz nada bem; viajar faz bem, faz bem conhecer gente nova, lugar novo, energia nova; acomodar e ter medo de mudar o que não está bom não faz bem; esquecer de dizer o que é importante pra quem é importante não faz bem; demonstrar o que a gente sente sem medo de ser piegas ou sentimental demais faz um bem danado; falar sem pensar e magoar o outro por impulso não faz bem; fazer coisa boa pra quem está do lado sem pedir recompensa faz super bem; sorrir faz um bem maior do mundo, se for sem motivo, faz mais bem ainda; franzir as sombrancelhas não faz nada bem – e ainda dá rugas; gritar e fazer grosseria seja com quem for não faz bem; ser gentil como a gente gostaria que fossem com a gente o tempo todo faz um bem danado; almoçar só sobremesa de vez em quando faz bem, mas só se for sem culpa, porque como já se sabe a culpa engorda pra burro; tomar banho de chuva num dia de verão faz bem; sentar no quintal pra brincar de pintura a dedo e deixar sujar a roupa e o rosto e tudo mais faz muito bem; passar a semana inteira contando as horas pro fim de semana não faz nada bem – e ainda faz o tempo demorar mais a passar; conversar com gente de boa conversa faz bem demais; sentir que se é amado do jeito que é faz muito bem; querer ser o que esperam que a gente seja não faz nada bem; pensar por si mesmo faz bem; seguir o passo da boiada faz mal; questionar faz bem; filosofar faz bem; desesperar faz mal. E tanta coisa mais que faz bem e que faz mal, fazendo da vida essa roda viva de todos os dias. Sentires estranhos, bonitos, doloridos-coloridos. Bom mesmo é viver tudo o que há pra viver, é se permitir, como dizia a canção. É saber o que te faz bem, e ir atrás disso sem medo e sem vergonha. E saber o que não te faz bem, e deixar pra lá, não apegar. E ir vivendo, sem dar muita importância ao que não tem assim tanta importância. Curtir, saborear. Ver poesia em todo canto. Isso sim, é que faz muito muito bem.